Hoje, 13 de julho, celebramos o Dia Mundial do Rock. É uma data em que guitarras soam mais alto, relembramos nossos álbuns favoritos e celebramos os ícones que definiram gerações. Mas você já parou para pensar por que, dentre todos os dias do ano, este foi o escolhido? A resposta não está no lançamento de um álbum ou no nascimento de um astro, mas em um dos eventos mais ambiciosos, caóticos e emocionantes da história da música.
A origem desta data está em um dia específico, em 1985, quando a música se recusou a ficar em silêncio diante de uma tragédia humana. Foi o dia em que o idealismo de dois músicos, a força da tecnologia e a boa vontade de um planeta inteiro se uniram em uma transmissão via satélite que parou o mundo. Um evento que foi muito maior que um festival: foi um apelo global pela vida.
Esta é a história do Live Aid, o concerto monumental que não apenas redefiniu o poder social do rock, mas também gravou para sempre o dia 13 de julho no calendário como um símbolo de que a música, sim, pode mudar o mundo.
A Semente da Indignação: Como um Documentário na TV Despertou uma Geração
Tudo começou em 1984, com uma reportagem. O músico irlandês Bob Geldof, líder da banda The Boomtown Rats, assistiu a um documentário da BBC sobre a fome devastadora que assolava a Etiópia. As imagens de milhões de pessoas, especialmente crianças, morrendo de inanição o chocaram profundamente. A sensação de impotência deu lugar a uma determinação feroz: ele precisava fazer alguma coisa.
Geldof sentiu que não podia apenas escrever uma canção de protesto; ele precisava de algo que gerasse um impacto real e imediato. Ele ligou para seu amigo Midge Ure, da banda Ultravox, e juntos tiveram uma ideia: reunir os maiores nomes da música britânica e irlandesa para gravar um single beneficente a tempo do Natal, com 100% da arrecadação destinada ao combate à fome.
O Primeiro Passo: A Criação do Hino “Do They Know It’s Christmas?”
O projeto foi batizado de “Band Aid”. Em um esforço logístico impressionante, Geldof usou sua agenda de contatos e seu poder de persuasão para convencer uma constelação de estrelas a participar. Em novembro de 1984, artistas como Bono (U2), Sting, George Michael, Boy George, Phil Collins e membros do Duran Duran e Spandau Ballet se reuniram em um estúdio em Londres.
Em menos de 24 horas, eles gravaram a canção “Do They Know It’s Christmas?”. A música se tornou um fenômeno instantâneo, alcançando o topo das paradas e arrecadando milhões de libras. O sucesso foi estrondoso, mas Geldof percebeu que, embora a ajuda fosse significativa, a escala do problema na Etiópia exigia uma ação ainda maior e mais ousada. A semente do Live Aid estava plantada.
A Ambição Global: O “Jukebox Global” em Dois Continentes
A ideia de Geldof era tão simples quanto audaciosa: organizar um concerto gigantesco, transmitido para o mundo todo, para arrecadar fundos e pressionar os líderes mundiais a agirem. Um “Jukebox Global”, como ele mesmo apelidou. Para isso, ele precisaria da maior line-up da história do rock.
O evento foi marcado para o dia 13 de julho de 1985 e aconteceria simultaneamente em dois palcos lendários: o Estádio de Wembley, em Londres, com capacidade para mais de 72.000 pessoas, e o Estádio JFK, na Filadélfia, EUA, para um público de quase 100.000 pessoas. A complexidade de organizar um evento dessa magnitude, com dezenas de artistas, em dois continentes, e transmiti-lo ao vivo via satélite era um pesadelo logístico.
Os 22 Minutos que Roubaram a Cena: A Performance Imortal do Queen
O Live Aid foi um desfile de lendas. David Bowie, The Who, U2, Dire Straits, Elton John, Paul McCartney, Led Zeppelin (em uma reunião especial), Madonna, Bob Dylan, Mick Jagger e Tina Turner… a lista era interminável. Cada um teve seu momento, mas uma banda, em particular, entregou uma performance que entrou para a história como, talvez, a maior apresentação ao vivo de todos os tempos.
O Queen subiu ao palco de Wembley no final da tarde. Havia dúvidas sobre a banda na época; alguns críticos diziam que seus melhores dias haviam passado. Em 22 minutos eletrizantes, Freddie Mercury e seus companheiros silenciaram todos os céticos. Com uma energia avassaladora e uma conexão hipnótica com a multidão, eles desfilaram um hit após o outro: “Bohemian Rhapsody”, “Radio Ga Ga” (com 72.000 pessoas batendo palmas em uníssono), “Hammer to Fall”, “Crazy Little Thing Called Love”, “We Will Rock You” e “We Are the Champions”.
A performance foi tecnicamente perfeita, artisticamente genial e emocionalmente catártica. Elton John, ao encontrá-los nos bastidores, teria dito: “Seus desgraçados, vocês roubaram o show!”. Eles não apenas roubaram o show; eles lembraram ao mundo por que o Queen era, e sempre será, realeza do rock.
Heróis, Lendas e uma Viagem de Concorde
O dia foi recheado de momentos icônicos. O U2, ainda no início de sua ascensão ao estrelato global, fez uma apresentação intensa, onde Bono quebrou o protocolo, desceu do palco e dançou com uma fã durante a performance de “Bad”. Phil Collins realizou uma façanha logística: tocou seu set em Wembley, correu para o aeroporto, pegou um avião supersônico Concorde e pousou na Filadélfia a tempo de tocar sua bateria no set do Led Zeppelin no mesmo dia.
Nos Estados Unidos, a reunião do Led Zeppelin era um dos momentos mais aguardados, e o encerramento contou com a presença de lendas como Bob Dylan, Keith Richards e Ron Wood. O evento foi finalizado nos dois continentes com os hinos beneficentes da época: “Do They Know It’s Christmas?” em Londres e “We Are the World” na Filadélfia.
O Legado Duradouro: Por que o Dia 13 de Julho?
O Live Aid foi um sucesso retumbante. Estima-se que quase 2 bilhões de pessoas, em mais de 150 países, assistiram à transmissão. A arrecadação superou 150 milhões de dólares na época, um valor monumental. Mas o impacto foi muito além do dinheiro. O evento colocou a crise da fome na África no centro do debate global e demonstrou, sem sombra de dúvidas, o poder de mobilização da cultura pop.
Anos mais tarde, durante uma convenção de rádios de rock, os participantes, inspirados pelo impacto e pelo espírito daquele dia, sugeriram que o 13 de julho deveria ser consagrado como o Dia Mundial do Rock, em homenagem ao evento que melhor simbolizou a força e o alcance do gênero. A data pegou e, desde então, é celebrada globalmente.
Portanto, hoje, quando você ouvir sua música de rock favorita, lembre-se da história por trás da data. Lembre-se do dia em que o idealismo de alguns se transformou na ação de muitos, e as guitarras e baterias não tocaram apenas por entretenimento, mas como um chamado poderoso e unificado pela solidariedade humana.
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